terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mouraria

De volta o Sol, o céu limpo, a azáfama que os pássaros fazem nas árvores do miradouro da Graça que são dos ruídos que menos me custa que interrompam a calmaria das minhas férias. O dourado dos raios que ilumina fachadas brancas e bordeux predominantes nos prédios antigos da baixa lisboeta. As árvores com a sua folhagem de tom verde escuro que produzem um som tão relaxante quando o vento abana os seus ramos, o burburinho de um bairro que espreita o rio Tejo, que espreita o Castelo de São Jorge, que espreita tanta coisa que teria de estar uma tarde inteira a escrever...se tivesse de a personificar, diria Mouraria atenta! Que olhas tudo ao pormenor. Que sentes a vibração do sino da Igreja da Graça e com ela vibras tu também, que recebes o brilho das águas do Tejo como quem recebe uma hóstia num altar sagrado. Atenta porém, ao Castelo lá no topo, que toma conta de ti, que te embala durante a noite e te oferece e te priva da Lua em ocasiões. Tal como te protege de olhares de mais além, também permite um voyeurismo permanente durante o dia a quem o visita. Ainda assim não te importas Mouraria atenta, porque sabes que é de te verem e de te viverem que sobrevives, dás o Fado ao estalar das guitarras, dás a voz de varina a moças que brincam nas tuas ruas e becos, dás vida nova a artistas que bebem da tua inspiração e continuas a vida de quem bebe copos vermelho sangue nas tabernas das tuas vielas.
Atenta e despreocupada ou atenta e carinhosa? Sei apenas que segues com atenção, esteja claro ou esteja escuro, sei que me dás inspiração para escrever sobre ti, vidas novas, vidas velhas, na memória ou acesas no presente, a tua calmaria, o teu rebuliço não permitem que este lugar pare...atenta...envelhecida mas nunca moribunda...atenta à minha janela...Mouraria o meu lar...

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